Opinar

Na Serra Leôa, a cada mosca que cai, uma criancinha morre de fome, ou de doença, ou das duas, ou de nenhuma, simplesmente com um tiro nos cornos.
Mas eu não sou a Sílvia Alberto pra andar aqui a pedinchar esmola prá fundação do Gil.
Se há coisa que gosto de fazer é opinar. Ou não fosse eu português. O português é a pessoa com mais sabedoria deste Mundo; ou se não é parece, porque o português sabe efectivamente de tudo. Se se fala de culinária, todos sabemos que a hortelã da ribeira dá outro gosto ás sopas de corvina. Se o tema é mecânica, tem pouco que saber: quantos mais cavalos melhor. Se falamos de política, a culpa é do Soares, e se a conversa salta prá bola temos o Figo e o puto que anda a pregar umas fodas naquela loira da TV toda tatuada.
E é por sermos um povo tão superficial, que havemos de andar sempre na cauda da Europa em tudo o que realmente interessa; sim, porque se falarmos de doenças, 'é uma linhazinha que saiu do sítio, não vale a pena ir ao hospital', quem não quer estudar 'vai trabalhar com o pai'. Somos tão superficiais que ficamos eufóricos por ter servido Bacalhau à Braz em cima da ponte Vasco da Gama e ter ido parar ao guiness. Ou por ter o maior gaspacho do Mundo e também ter ido parar ao guiness. Esta superficialidade há-de matar-nos, e, acreditem, já não falta muito para sermos finalmente uma província de Espanha, e darmos razão aos estúpidos dos americanos que dizem tal barbaridade, entre mordidelas num BigMac. A cultura portuguesa, e não, não falo dos folclores nem dos cantares alentejanos, está a ir por água abaixo, e nós a ver, enquanto apresentamos ao Mundo um salame com 500kg's, e vamos outra vez pró guiness. Brevemente, e ao preço a que as terras estão, as fronteiras espanholas estarão alargadas. Já há crianças portuguesas a nascer em Espanha. Os próprios portugueses vêm mais vantagens em serem espanhois...
Onde é que andam os portugueses inventivos, aventureiros, inconformados? Aqueles que acharam que eram pequenos demais e decidiram partir rumo ao desconhecido? Muito provavelmente a darem voltas e voltas por verem os descendentes a fazer a maior árvore de Natal do Mundo, e ir parar ao guiness.
Já não me lembro se é a 1ª vez que abordo o tema, mas é um tema que me incomoda. A falta de ambição de um português, a malandrice, a estagnação, o conformismo de um povo que perdeu o dinamismo quando ganhou a liberdade. E tal só me leva a crer uma coisa: Somos mesmo uns animais; só a 'toque de caixa' é que conseguimos ser alguém, só à rédea curta conseguimos visibilidade pela positiva.
E é pena.