sexta-feira, fevereiro 24, 2006

O meu quarto tem dois computadores e um monitor arrumados à parede à espera de serem levados para o lixo

As corridas matinais partem um gajo todo, e se juntarmos isso ao facto de dia sim dia não spotar o Simões no seu bote…é verdade, é uma vida de sossegada miséria. Faço aqui uma pausa no meu raciocínio a modos que está a dar os Sopranos e a filha lá do Tony (não o antigo rei do Texas, o Padrinho) é boa que nem cornos e um gajo tem que ver. Porque é que na generalidade as mocinhas bonitas têm a tendência para ser burrinhas? Não interessa e nem é sobre isso que se está aqui a falar…a psiquiatra tem engordado ao longo dos anos e o Tony tem emagrecido…curioso… (…) o que eu queria escrever aqui era mesmo que este teclado todo modado que orientei com teclas pretas e brancas salteadas me faz recorrentemente errar na construção das palavras. Ao passar pelo calçadão da Ovideja, o Grafe dissertou uma teoria que me pareceu pertinente, seja lá o que isso quer dizer; o Grafe, ao passar pelo mini-circo que está montado ao lado de um trio de obras onde estavam a fazer uma rusga sobre a emigração ilegal hoje, expressou, e muito bem a hipótese de os circos serem o gound zero de toda a pornografia infantil. Esta ideia pode parecer bastante controversa, mas não, o Grafe não é contorcionista. O que se passa é o seguinte, quando lá passámos, reparamos que o som estava extremamente alto entre musica carnavalesca e a voz do animador e então foi instantaneamente percebido a intenção de tal basqueiro, é que sendo aquilo uma tenda com um porteiro, onde só podem ir os putos da escola primária podem ir por convite, um ambiente controlado com o som ambiente a distrair tudo cá fora…é claro que ali se violam putos e se fazem filmes/sessões fotográficas com eles para se venderam para a antiga Flandres. O Flandres é o vizinho do Homer. Olha, a filha do Tony está noiva. Com o gound zero da pornografia infantil identificado, é claro que vou mais longe ao ponto de dizer que os professores das escolas primárias, e a cadeia de comando toda que chega até ao presidente da república está toda envolvida neste escândalo. Depois queixam-se que os gajos da PJ lhes escutem as conversas...pois claro! É daí que se fazem os cd’s áudio para acompanhar um pack de fotos de menores de 12 anos. Em suma, isto está tudo na rede, vocês não sabem, mas ouve um amigo vosso que me disse que viu umas fotos vossas…eu só vos quero avizar, vocês só queriam fazer umas brincadeiras mas tipo, é melhor conhecerem os vossos parceiros antes de fazerem seja lá o que quiserem… se quiserem fazer isso façam-no mas com alguém que vocês tenham confiança…senão são enganados como têm acontecido muito ultimamente…só vos quero avisar…sou vosso amigo. Como já diziam os NOFX num dos seus sons: Dad and mom, what planet are you from? And what convinced you to pack up and leave, Doing drugs and asking me for hugs. What's the matter with parents today? (...) Mom and dad, I think you ought to quit smoking so much pot and hanging with my friends. Isto não tem absolutamente nada haver com nada.Tox com dois anos a menos.

P.S. : Não fumem caia do Cristo, a cena não presta, bate demais para quem não é um regular.

domingo, fevereiro 19, 2006

O porquê de o Mig ficar no banco do Desportivo de Beja

Sem grande assunto para dissertar, achei por bem forçar a inspiração, ou seja, defecar. No dia 8 de Fevereiro recebi mais uma edição do jornal mensal “O Intereconómico” que é já bem conhecido por prever o futuro. Esta peculiar publicação é extremamente conhecida aqui na minha zona por ser uma prova que as viagens inter-temporais são possíveis e praticadas pelos senhores brasileiros que distribuem esta mesma publicação, visto o jornal trazer sempre a data de uma semana à frente da que nos encontramos no dia em que a recebemos, neste mês, por exemplo, recebi no dia 8 o jornal de dia 16. Depois de ter provado que o filme “Regresso ao Futuro” aconteceu mesmo, faço referência a um artigo ainda do “Intereconómico” que se pretendia a educar os pais sobre como acabar com uma birra dos filhos, e nesse brilhante excerto de inteligência, o “jornalista” dizia algo do tipo: -“Quando o seu filho faz uma birra, tente dissuadi-lo com argumentos lógicos, e se isso não resultar, procure apresentar-lhe outras opções”. Se eu bem entendi, ele está a falar de crianças…argumentos lógicos…crianças…? Depois disto é que percebi porque é que aquilo é uma publicação gratuita. Será que alguém a ia comprar? Bem…muita gente compra o 24Horas.

Outra das coisas que tenho reparado são aqueles rectangulozitos que vêm em praticamente tudo o que é produto de consumo e que nos podem ilibar do crime de furto/roubo. A “Prova de Compra” é a impressão de qualquer embalagem mais discutida recentemente no sub-mundo do meu bairro. A ideia de que podemos ir ao Pingo Doce, roubar um Red Bull, sermos agarrados e depois nos explicarmos mostrando aquela parte da lata em que diz “Prova de Compra” e deixarem-nos ir é simplesmente demasiado tentadora para ser posta de parte. A sorte da PSP é que nenhum criminoso ainda descobriu esta forma legal de roubar, mas eu ainda vou testar este novo método e depois deixarei o meu testemunho.Tox

“…pá…eu não roubai pá…está aqui…está aqui a prova de compra…isto prova que comprei, e isso das cassetes de vídeos não vale pá…se está aqui a prova é porque comprei, e não quero saber de nada, “sigo” do caralho!...”

sábado, fevereiro 11, 2006

Uma história (quase) real

1986, nasce Nélio Miguel da Silva, fruto de uma relação que atingiu o patamar máximo da solidez amorosa aos 2 meses de namoro; filho da ainda menor, mas não menina Maria Eulália, e de José, apenas José (reza a lenda que os pais o abandonaram, e a mãe mandou-o Guadiana abaixo). Havia o destino de se lembrar de juntar no mesmo bairro operário, o Nélinho, o Sandro, e o Valter.
Os 3 faziam da rua a sua primeira casa, dos postes da EDP fontes de riqueza (subiam-nos pra roubar os casquilhos de cobre), da família que está presa, drogada, morta, desaparecida, a apanhar pêras na Suiça um mero objecto de chacota, e mais tarde de pancada. Era assim a vida dos 3 amigos, conflituosa quanto baste, mas duma alegria cortante. Ter a fotografia deles no quadro de cortiça da Worten era pra eles motivo de orgulho pessoal; aparecer no jornal desportivo local era como atingir o nirvana do dito bairro operário. Aproveitando esta deixa desportiva, caracterizo o Sandro. Sandro podia ter sido rico. Sandro podia ter casado com uma modelo jugoslava e fretar um avião para ir assistir ao parto dela algures no Burundi numa estância paradísiaca. Sandro podia ter ido longe no mundo da bola. Mas não foi. A quem assistia aos jogos no baldio do bairro operário, entendia que estava ali futuro. Sandro era dotado dum bom toque de bola, e duma técnica que lembrava Futre. Chamava na brincadeira ao amigo Valter, o Maradona, num claro gesto de chacota para com este, cuja bola o atrapalhava mais que testículos de elefante. Era o enfant terrible da equipa do bairro, e cedo começou a brilhar nos escalões de formação da sua localidade. Deu nas vistas, como havia dado para os idosos que o viam deslizar no pelado do seu bairro, e deu nas vistas também aos olheiros do Sporting que por ali passavam. Sandro deu o salto. Foi trocado por um saco de bolas e cones, e rumou a Lisboa, rumo aos milhões. Encantou os então treinadores da famosa equipa lisboeta, mas num claro regresso ás origens não resistiu, e roubou um par de ténis, pouco mais de 30 dias depois de lá ingressar. Recambiado, voltou pró bairro operário e, enquanto lia um jornal antigo d'A Bola, via-se a ele próprio, como grande esperança do futebol português, a fazer o que mais gostava: a brincar com a bola...
Sandro entrara em depressão. Fora procurar os amigos de infância e depara-se com um renovado Nélio, e um putrefacto Maradona. Nélio havia sido mandado para uma casa de correcção por furto qualificado, e voltara à terra natal para ingressar na chamada "escola dos betos", essa espécie que tanto o enojava, mas que ao mesmo tempo, o sustentava (entre dinheiro, telemovel, etc). Entrou "bicho-do-mato", saiu rei da dita escola, tal as raízes que criou por anos de reprovação contínua. Arranjou amigos prá vida, daqueles que nos safam em qualquer circunstância: seja para nos pagar uma sandes, como pra nos pagar um sumo, como pra nos dar o telemovel, como pra nos dar a blusa, como pra nos dar os ténis, como pra nos dar algo. Nélio aprendera uma nova realidade: se não podes vencê-los, junta-te a eles. E ele juntou-se, infiltrou-se, e era agora um quase-beto com calças pelas canelas, uns sapatos de vela com os cordões cheios de pó do caminho de terra que dá acesso ao seu lar, e uma camisa .. Tamberlake. Acompanhava com gente mais ou menos normal, e a única recompensa que dava áqueles novos amigos era fugir, qual galgo, raçudo, na disputa da bola, e levar a equipa ás costas nas Inter-turmas escolares de futebol. Os seus quase 20 anos faziam a diferença. Sandro teve então uma pequena desavença com o Nélio, falava-lhe da criação que ambos tiveram, que todagente que tome banho todos os dias é a abater, que todagente que tenha telemovel, tem de ficar sem ele. Falou-lhe da foto na Worten. Nélio argumentou, falou-lhe do provérbio que havia apreendido. Ao juntar-se a eles, era capaz de extorquir mais e mais coisas. Mas a amizade é forte, e as ganzas também. Nélio perdoo-o, e sentados cada um na sua grade de minis, celebraram o regresso do amigo Sandro à terra que o viu nascer. Beberam e drogaram-se até altas horas da madrugada, mas havia algo que faltava. O Maradona? - perguntou o Sandro, ainda meio comido.
Eram 5.30h da manhã. O mercado deserto, os bidons queimavam a fogo lento, as hortaliças chegavam. Maradona havia sido escalado pra carregar canastras de hortaliça. E ele fazia-o com perícia. Ostentava uma rosa, mal tatuada no braço, uma rosa de esperança num futuro melhor. Sonhava um dia ter a própria banca de hortaliça no mercado. Mas até lá tinha que ser assim, começar por baixo. Entre canastras e cigarros, lá ia apreendendo uma ou outra anedota de nível consideravelmente baixo. Sabia assobiar. Os donos das hortas queriam apelidá-lo de rouxinól, mas o apelido não foi bem sucedido. As calças rasgadas, a t-shirt das Jornadas Desportivas 1998, e os ténis RITEX não o permitiram. Era Maradona o seu apelido. E foi o mesmo sorriso juvenil que fazia quando via as carrinhas de cenouras e bróculos, aquele que recebeu Sandro, já no bairro. Riram, fumaram, beberam, drogaram-se, vomitaram-se, alucinaram-se. Era hora de recordar bons tempos.
Nada melhor que recordar os bons velhos tempos. Sábado à tarde é dia de jogo de bola para a civilização própriamente dita. Nélio, Sandro e Maradona escalaram mais 2 colegas, e foram á conquista. Entraram no estilo habitual: Pitbull em riste, charro na mão, e aquele sururu próprio da analfabetismo aos 20 anos. Com a mesma educação que tinham no dia em que nasceram, pediram para jogar: SAIAM LÁ CARALHO! E assim foi. Fizeram o gosto ao pé, bailaram á frente dos adversários, e uma boa tarde de bola não ficava completa sem um ensaio de porradas à antiga. Foi um rapazito que teve o azar de entrar mais duro sobre o Sandro, o pobre espancado. Sem resistir, ficou sem telemóvel, dinheiro, casaco do fato treino, e os ténis. Ganhou um olho negro, a cana do nariz partida e hematomas por todo o corpo. "Vá lá não soltaram o pitbull", respirava de alívio o pobre rapaz.
Nélio, Sandro, e Maradona queriam novos desafios. Começaram a passar droga pra arranjar dinheiro prá carta de condução, e assim foi. Sem falhar uma única pergunta, ou manobra, tiraram a carta irrepreensívelmente, ainda que o Maradona tenha tentado roubar os tapetes do carro da instrução. Era hora de fazer mal também pelas longas linhas de alcatrão, até então invulneráveis. O Fiat Punto GT foi comprado, foi equipado, foi testado, foi acelerado, e foi espetado. Outros se seguiram, sempre na mesma cadeia. Era hora dos amigos se separarem.
Nélio engravidou uma rapariga com 17 anos, e acabou por ter de se casar com ela, sob ameaça de arma de fogo. O galgo do grupo percorria agora as estantes do InterMarché a repôr yogurtes para sustentar a família. Os amigos betos deram graças a Deus. Maradona foi preso por alegadas ligações com 2 conhecidos proxenetas da região. Jura inocência, mas a rosa que tatuou no braço, num momento infeliz, não o deixava mentir: Culpado. Sandro, esse, o dos milhões, chorava... Passou-lhe uma grande fortuna ao lado, em troca de um par de ténis. Profissionalmente, é empregado da junta de freguesia, e continua a espalhar o perfume num clube que disputa o INATEL. Apesar dos pulmões, fígado, e pâncreas há muito o terem abandonado, continua sem lhe perder o jeito. Remata, Sandro!

Sublime!

quarta-feira, fevereiro 08, 2006